A insustentável cultura do Dr. Mário Nunes:
e agora, Dr. Carlos Encarnação?
[texto publicado no Diário de Coimbra de 29/12/2005]
O Conselho da Cidade repudia, vivamente, as recentes declarações do senhor Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Dr. Mário Nunes, ao queixar-se de “protocolos gravosos” que recebeu em herança.
Independentemente da lamentável falta de rigor com que se referiu à questão dos apoios municipais ao sector da Cultura, aquilo que mais nos fere, embora infelizmente não nos surpreenda, é a completa ausência de um pensamento sobre a Coisa Cultural. Pior: não demonstrando ter uma ideia minimamente estruturada acerca da área autárquica pela qual é responsável, o Dr. Mário Nunes coloca aos seus interlocutores a enorme dificuldade que é a de estes correrem o risco de ficar a falar sozinhos, porque em vez de um argumento, de um projecto, de um pensamento — por limitado que fosse — que se lhes opusesse, aquilo que eles encontram é um grandioso vazio, espécie de buraco negro para onde o senhor vereador atirou a Cultura para se ver livre dela.
Os destinatários das queixas “gravosas” do Dr. Mário Nunes hão-de explicar-lhe, pacientemente e com palavras simples, a enormidade do seu equívoco.
Ao Grupo da Cultura do Conselho da Cidade cabe manifestar a sua estranheza pelo facto de o Senhor Vereador da Cultura aceitar os cortes orçamentais da sua área sem um pio de protesto ou de incomodidade. Porque ao reduzir à mínima expressão, ou ao insulto gratuito, o universo cultural, o Dr. Mário Nunes está a praticar um crime de lesa-Coimbra. Ora, é preciso que alguém exterior ao Executivo municipal lhe diga isso, porquanto tudo indica que os seus companheiros da maioria que governa a cidade estavam distraídos quando ele interveio. Têm a seu favor, é claro, o facto de o conhecerem e por isso saberem que as suas intervenções vazias apenas servem para preencher o tempo e desgastar a oposição. Mas desta vez o Senhor Vereador passou das marcas e, embora a época natalícia seja propícia à benevolência, não podemos, por imperativos de consciência, fechar os olhos e fazer de conta que não se passou nada.
Coimbra, diz o Senhor Presidente da Câmara, é a “cidade do conhecimento”. Em que sentido, perguntamos nós, quando vemos a atribuição de uma das mais importantes e estratégicas pastas autárquicas confiada a uma pessoa incapaz e incompetente para o desempenho das funções que ocupa? Ponhamos a questão nestes moldes: que ideia teve, que projecto lançou o Dr. Mário Nunes que tenha colocado Coimbra no mapa cultural do País? Que estratégia de médio e longo prazo tem ele para o sector, capaz de prestigiar a cidade, o concelho, a região? O Senhor Vereador faz alguma ideia do modo como a Cultura é vista e praticada nas cidades modernas e do lugar que ocupa nos destinos municipais?
Reduzir a expressão cultural às manifestações “folclóricas” é a mesma coisa que defender o encerramento da Universidade, porque o dinheiro para a Educação já não chega para pôr os Liceus a funcionar como deviam; É estar contra a investigação enquanto houver pessoas que não saibam ler e escrever; É achar que a Cultura (ou as indústrias culturais) não é um sector vital das sociedades dos nossos dias; É não entender que a marca diferenciadora de Coimbra passa pela Cultura, mas vendo-a e tratando-a de acordo com o tempo que vivemos: a contemporaneidade.
Há em toda esta situação, no entanto, uma armadilha em que não caímos: considerar o Vereador como inimputável e continuar alegremente na espiral da desresponsabilização a que nos têm habituado os sucessivos governantes locais desta cidade.
A substituição do Vereador da Cultura, que obviamente e com justa causa se impõe, já não é suficiente.
Exige-se do Presidente da Câmara uma clarificação da sua própria posição quanto ao papel que atribui à cultura no seu projecto para a cidade.
Se continuar calado, confirmará as nossas piores suspeitas: o discurso e a prática do Dr. Mário Nunes merecem, afinal, a concordância do Dr. Carlos Encarnação.
e agora, Dr. Carlos Encarnação?
[texto publicado no Diário de Coimbra de 29/12/2005]
O Conselho da Cidade repudia, vivamente, as recentes declarações do senhor Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Dr. Mário Nunes, ao queixar-se de “protocolos gravosos” que recebeu em herança.
Independentemente da lamentável falta de rigor com que se referiu à questão dos apoios municipais ao sector da Cultura, aquilo que mais nos fere, embora infelizmente não nos surpreenda, é a completa ausência de um pensamento sobre a Coisa Cultural. Pior: não demonstrando ter uma ideia minimamente estruturada acerca da área autárquica pela qual é responsável, o Dr. Mário Nunes coloca aos seus interlocutores a enorme dificuldade que é a de estes correrem o risco de ficar a falar sozinhos, porque em vez de um argumento, de um projecto, de um pensamento — por limitado que fosse — que se lhes opusesse, aquilo que eles encontram é um grandioso vazio, espécie de buraco negro para onde o senhor vereador atirou a Cultura para se ver livre dela.
Os destinatários das queixas “gravosas” do Dr. Mário Nunes hão-de explicar-lhe, pacientemente e com palavras simples, a enormidade do seu equívoco.
Ao Grupo da Cultura do Conselho da Cidade cabe manifestar a sua estranheza pelo facto de o Senhor Vereador da Cultura aceitar os cortes orçamentais da sua área sem um pio de protesto ou de incomodidade. Porque ao reduzir à mínima expressão, ou ao insulto gratuito, o universo cultural, o Dr. Mário Nunes está a praticar um crime de lesa-Coimbra. Ora, é preciso que alguém exterior ao Executivo municipal lhe diga isso, porquanto tudo indica que os seus companheiros da maioria que governa a cidade estavam distraídos quando ele interveio. Têm a seu favor, é claro, o facto de o conhecerem e por isso saberem que as suas intervenções vazias apenas servem para preencher o tempo e desgastar a oposição. Mas desta vez o Senhor Vereador passou das marcas e, embora a época natalícia seja propícia à benevolência, não podemos, por imperativos de consciência, fechar os olhos e fazer de conta que não se passou nada.
Coimbra, diz o Senhor Presidente da Câmara, é a “cidade do conhecimento”. Em que sentido, perguntamos nós, quando vemos a atribuição de uma das mais importantes e estratégicas pastas autárquicas confiada a uma pessoa incapaz e incompetente para o desempenho das funções que ocupa? Ponhamos a questão nestes moldes: que ideia teve, que projecto lançou o Dr. Mário Nunes que tenha colocado Coimbra no mapa cultural do País? Que estratégia de médio e longo prazo tem ele para o sector, capaz de prestigiar a cidade, o concelho, a região? O Senhor Vereador faz alguma ideia do modo como a Cultura é vista e praticada nas cidades modernas e do lugar que ocupa nos destinos municipais?
Reduzir a expressão cultural às manifestações “folclóricas” é a mesma coisa que defender o encerramento da Universidade, porque o dinheiro para a Educação já não chega para pôr os Liceus a funcionar como deviam; É estar contra a investigação enquanto houver pessoas que não saibam ler e escrever; É achar que a Cultura (ou as indústrias culturais) não é um sector vital das sociedades dos nossos dias; É não entender que a marca diferenciadora de Coimbra passa pela Cultura, mas vendo-a e tratando-a de acordo com o tempo que vivemos: a contemporaneidade.
Há em toda esta situação, no entanto, uma armadilha em que não caímos: considerar o Vereador como inimputável e continuar alegremente na espiral da desresponsabilização a que nos têm habituado os sucessivos governantes locais desta cidade.
A substituição do Vereador da Cultura, que obviamente e com justa causa se impõe, já não é suficiente.
Exige-se do Presidente da Câmara uma clarificação da sua própria posição quanto ao papel que atribui à cultura no seu projecto para a cidade.
Se continuar calado, confirmará as nossas piores suspeitas: o discurso e a prática do Dr. Mário Nunes merecem, afinal, a concordância do Dr. Carlos Encarnação.
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