Monday, November 13, 2006

opinião

Repto aos candidatos
[texto publicado no Diário de Coimbra, 16/02/2005]


A cultura é um tema tradicionalmente secundarizado na acção política em Portugal. Encarada como um elemento acessório e decorativo, não é por isso de espantar que, em contextos de campanha eleitoral como o que agora atravessamos, os candidatos das diferentes forças políticas se abstenham de se pronunciar sobre o assunto, convictos de que não se ganham (nem se perdem) votos por tão irrelevante matéria.
O recente debate entre os candidatos pelo distrito de Coimbra, organizado pela Pro Urbe, foi apenas mais um exemplo desta realidade. Interpelados directamente sobre o papel que atribuem às políticas culturais nas suas estratégias de desenvolvimento (locais e nacionais), a quase totalidade dos candidatos optou por não se pronunciar, concentrando-se nos dossiês mais polémicos e mediáticos (a co-incineração, o traçado do TGV, a naturalidade dos cabeças de lista…) ou em considerações vagas e banais sobre o desemprego crescente, a fragilidade do tecido económico, as insuficiências do serviço nacional de saúde.
Não questionamos a relevância destes e dos outros temas que tradicionalmente estruturam a discussão sobre as políticas públicas e a intervenção do Estado. São certamente importantes e merecem de todos os cidadãos uma análise atenta na hora de traçar diagnósticos e de escolher os seus representantes. Parece-nos, no entanto, que um outro olhar sobre as questões culturais pode precisamente contribuir para encontrar novas soluções, no quadro global de uma intervenção que ultrapasse o nível da mera e mais ou menos cíclica retórica.
Alcançado o reconhecimento formal do direito dos cidadãos à prática e fruição culturais (não há tanto tempo assim), este nunca passou, na verdade, de um direito menor na demagogicamente inquestionável hierarquia das necessidades humanas – o pão, a habitação, a saúde, a educação, o emprego. Por preconceitos ideológicos (que atravessam, aliás, todo o espectro político), em alguns casos; por pura ignorância e falta de visão dos responsáveis políticos, quase sempre.
Ao empenhar-se na defesa do papel central que as políticas culturais devem desempenhar no desenvolvimento do país, o grupo da Cultura do Conselho da Cidade de Coimbra (CCC) não o faz só por princípio. Sabemos (e diversos estudos e experiências, em Portugal e no estrangeiro, têm-no demonstrado cabalmente) que uma aposta estruturada e consistente em matéria de políticas culturais, desligada da pressão do curto prazo e da vertigem eleitoralista, produz resultados extraordinários em todas as outras áreas: na melhoria da qualidade de vida, no combate à desertificação, na melhoria dos níveis do sucesso escolar, na qualificação das populações, no número e qualidade dos postos de trabalho, na dinamização da actividade económica, no fortalecimento dos laços identitários e de integração da comunidade, no desenvolvimento, em suma, das cidades, das regiões e do país.
Coimbra – dizemo-lo há anos – reúne todas as condições para ser um exemplo a nível nacional nesta alteração do paradigma de intervenção pública. O debate da Pro Urbe veio no entanto confirmar que continua a faltar um elemento essencial: a coragem política.
Neste sentido, e já em plena campanha eleitoral, o Grupo da Cultura do CCC lança publicamente um repto a todas as candidaturas: digam-nos o que pensam sobre a actual situação cultural do distrito de Coimbra; digam-nos em que medida as políticas culturais se integram nas estratégias de desenvolvimento que propõem; digam-nos, por fim, o que podemos esperar da vossa acção em matérias de políticas culturais caso mereçam a confiança dos eleitores.

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